terça-feira, 29 de junho de 2021

A leitura amiga e sábia do José Oliveira Barata

 


Palavras de Drummond:

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Mais do que uma receita é 'arte poética'; indica. O meu amigo António Ferra, que tanto diverte os nossos amigos com uns videozinhos sobre 'póesia', só pode chegar à 'desconstrução' porque é de facto 'poeta'. Tem a 'techné', a "ars" que lhe permite recusar o 'cliché' para penetrar no mundo das palavras. Picasso desenhava o 'clássico' e desenhou os Pierrots que todos conhecemos... O António acaba de publicar um livro de poesia: Estrada de Cinza, na editora Eufeme. Chego a Cajadães e tenho este livro; cuidado na simplicidade das coisas amadas e dadas do coração. Um diálogo por onde passa a ternura, um certo 'spleen', um baudelairiano 'mal du siècle", mesmo quando toma como mote as nossas canções trovadorescas; sempre o amor: contemplado e feito. Também a desilusão que a vida nos vai mostrando e que nos faz sussurrar "game over". "...e a sensação de ter jogado tudo/ com a tenacidade amarga das palavras/que só em balões atingem o sucesso/ Game Over/
Caro António, obrigado pelo livro que nos deste.Aqui eu a Manuela agradecemos. Continuaremos a estrada, deixando por momentos uma marca; breve, mas nossa para se desfazer com uma qualquer brisa que sopre a cinza... Só isto. E o abraço.